A Assembleia Legislativa de Goiás realizou na tarde desta segunda-feira, 27, audiência pública “Os direitos das crianças atípicas seguradas dos planos de saúde privados em Goiás” e reuniu mães, representantes de entidades de saúde e convidados.
A audiência foi proposta pelo deputado estadual Mauro Rubem (PT), que também presidiu o debate, que foi realizado em razão da Unimed Goiânia anunciar o descredenciamento de três clínicas especializadas no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Crianças atípicas são aquelas cujo desenvolvimento diverge do padrão neurotípico, apresentando diferenças em áreas como linguagem, socialização, comportamento e habilidades cognitivas. Essa neurodiversidade pode estar associada a transtornos como o transtorno do espectro autista (TEA), síndrome de Down, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e dislexia.
“Nossa proposta aqui é relatar as dificuldades enfrentadas pelos clientes de convênios, em particular as crianças com autismo. Entendemos a luta das famílias e nós estamos empenhados na busca por soluções e garantia de direitos à saúde”, afirmou Mauro Rubem em discurso de abertura da audiência.
O parlamentar criticou veementemente a ausência da Unimed, que foi convidada para participar do debate e não enviou representante. “Entendo que a ausência da Unimed é um grave erro. Não estamos aqui para criar um confronto. E cada vez mais que a Unimed se distancia de resolver o problema ela perde cada vez mais”, pontuou.
O vereador por Goiânia Cabo Sena (PRD) participou da mesa de discussão. “Será que esse descredenciamento é por causa de dinheiro? Qual a justificativa? A carta de descredenciamento não traz a justificativa, só diz que eles têm outras parcerias”, questionou o parlamentar.
Pai de uma criança atípica, vereador por Goiânia Dr. Gustavo (Agir) também participou da audiência e destacou a dificuldade enfrentadas por essas famílias. “Somos famílias que passam por dificuldade diariamente. O descredenciamento não faz menor sentido”.
A presidente da ONG Mãe das Mães Atípica, Letícia Amaral, contou a experiência de sua filha, que teve resultados significativos com apenas um mês de terapias em uma das clínicas que a Unimed avisou do descredenciamento. “Nossa luta precisa ser todos os dias e a Unimed mexeu com as mães erradas”, declarou.
Marcelo Carvalho Miranda, promotor de Justiça do Núcleo de Assessoramento Temático de Fomento e Articulação da Neurodiversidade da Criança e do Adolescente, afirmou que que problemas financeiros não justificam o descredenciamento, uma vez que o setor de saúde é um dos mais lucrativos. “O problema da má gestão do passado ou do presente está recaindo sobre pessoas inocentes. A Unimed está colocando a culpa nas pessoas erradas: alegar que não tem condição de cuidar, quando, na verdade, quem não tem condição de cuidar são as mães”, exclamou.
Isabela Mendes é coordenadora terapêutica do Instituto Amplitude e afirmou que a instituição não nasceu motivada por questões financeiras, mas da missão de ajudar as crianças atípicas e suas mães. “A clínica não nasceu de um interesse financeiro, mas de uma necessidade. Atuo no autismo desde 2018. É um lugar que segue todo um embasamento científico, segue protocolos. Nosso proposito sempre foi de garantir respeito, cuidado e dignidade. O vínculo com a Unimde sempre foi importante. O descredenciamento é no mínimo um prejuízo para a qualidade de vida das crianças”, pontuou.
Responsável técnica pelo Centro de Reabilitação e Aprendizagem Psicológica (Crap), Nadimara Azzolini, ressaltou a surpresa da clínica ao tomar conhecimento do descredenciamento e relatou que não houve justificativa por parte da operadora Unimed. “Eu me surpreendo com esse descredenciamento. Podem nos auditar. Quem convive com crianças e adultos atípicos sabe que não existe nada leve. Exige amor, cuidado e a gente só quer continuar fazendo aquilo que está dando certo. Uma certeza que nós temos é o comprometimento com os resultados do Crap”.
“É assustador a gente ter que lidar com esse processo. Esse descredenciamento precisa ser revisto. Nossas crianças não podem sofrer regressões por situações da operadora”, completou Angela Maria, mãe de uma criança atípica.
Representante do Instituto Sarah Jacob, em Aparecida de Goiânia, completou: “É preciso rever essa decisão da Unimed. A continuidade do atendimento é fundamental para a qualidade de vida das crianças. O autismo não pode ser tratado apenas como estatística, mas com cuidado pleno”.